Agatha ChristieResenha

Assassinato no campo de golfe – Agatha Christie (#3)

Minhas leituras da Agatha Christie andam bem atrasadas (como várias outras coisas na minha vida). A essa altura, tinha me programado para já ter lido pelo menos os seus oito primeiros livros, mas a realidade é que nada saiu como planejado e cá estamos, ainda no terceiro livro. Um pouco frustrante? Sim, mas ando tentando não me cobrar tanto em relação a isso e apenas me divertir nesse processo.

Assassinato no campo de golfe foi publicado originalmente em 1923 e, mesmo 100 anos depois, continua surpreendendo leitores ao redor do mundo. Assim como em O misterioso caso de Styles, os fatos são narrados pelo capitão Hastings, que mais uma vez acompanha o detetive Hercule Poirot em uma investigação. Laura Thompson (autora de Agatha Christie: A Mysterious Life) diz que essa é uma obra que mostra claramente como grandes nomes do mistério francês influenciaram Agatha, em especial o escritor Gaston Leroux (O mistério do quarto amarelo e O fantasma da ópera), diferindo um pouco do estilo de seus outros livros.

Dust jacket (sobrecapa) da primeira edição britânica (The Bodley Head).
Dust jacket (sobrecapa) da primeira edição norte-americana (Dodd, Mead & Co.).

Um pedido de socorro, um pouco de romance e muitas reviravoltas

Poirot recebe uma carta, assinada por um conhecido milionário, o Sr. Renauld. Nela, o homem solicita com urgência a ajuda do detetive, pois acredita que sua vida esteja em risco devido a um grande segredo que era de seu conhecimento. Prontamente, Poirot e Hastings viajam para a França, mas chegam tarde demais: o Sr. Reanuld foi assassinado e seu corpo foi encontrado em uma cova rasa, em um campo de golfe próximo de sua propriedade.

Daqui em diante fica muito difícil dar detalhes da trama sem dar spoilers. Agatha Christie mais uma vez nos conduz por uma trama cheia de detalhes, fazendo com que todos os personagens pareçam culpados, para depois desmontar, com maestria, todas as teorias que leitor possa ter criado, entregando um final surpreendente, rico em detalhes e com todas as pontas amarradas.

A relação entre Poirot e o capitão Hastings continua rendendo momentos divertidos. Hastings acaba se apaixonando por uma bela moça, que, como descobriremos mais tarde, está de certa forma envolvida com o caso. Esse fato rende ótimos diálogos entre os dois amigos e nos revela um Poirot sensível ao amor e fiel escudeiro de Hastings. Falando sobre a investigação em si, Hastings continua admirando os métodos nada convencionais de Poirot. Por vezes, os dois discutem, por não pensarem da mesma forma, e Hastings chega até a duvidar da capacidade investigativa de Poirot em alguns momentos, mas Poirot sempre acaba surpreendendo o amigo, entregando novos detalhes sobre o caso e valiosos conselhos.

— Método, entende, mon ami? É tudo uma questão de método. Ponha os fatos em ordem. Ponha as suas próprias ideias em ordem. E se algum pequeno fato por acaso não se ajustar, em vez de descartá-lo, examine-o ainda mais atentamente. Embora o significado dele possa lhe escapar no momento, fique certo de que é importante.

O que mais gostei em Assassinato no campo de golfe foram as reviravoltas tramadas pela Agatha. Sempre que estava confortável, achando que já tinha entendido o que estava se passando, lá vinha um fato inesperado ou um personagem novo que mudava o rumo de tudo. Fui enganada diversas vezes durante a leitura, daquela forma prazerosa que só um bom livro de mistério consegue proporcionar. Também gostei do final da história de amor do capitão Hastings. Pelo que andei lendo, as aparições desse personagem agora serão mais esporádicas, devido ao rumo que sua vida vai tomar após a resolução desse caso. Outro ponto alto, para mim, com certeza é a atuação de Poirot, totalmente focada na observação dos suspeitos, trazendo sempre ótimas revelações sobre as atitudes de cada um dos envolvidos no crime.

O homem é um animal sem qualquer originalidade. Não o é em sua vida cotidiana normal, dentro da lei, assim como também não o é quando se coloca fora dela. Se um homem comete um crime, qualquer outro crime que cometer, daí por diante, será extremamente parecido.


Adaptações

Em 1990, ano do centenário da Agatha Christie, o livro virou um episódio de uma hora e meia em um programa da BBC Radio 4, com John Moffatt interpretando Hercule Poirot e Jeremy Clyde como o capitão Hastings . No teatro, Assassinato no campo de golfe ganhou uma adaptação em 2021, nos EUA.

Também tivemos adaptações para televisão. Na Inglaterra, a trama ganhou sua versão no terceiro episódio da sexta temporada de Poirot. A série conta com David Suchet interpretando Poirot e Hugh Fraser como Hastings. No Japão, o livro também ganhou uma adaptação, no segundo episódio da minissérie Meitantei Akafuji Takashi, lançada em 2005. O primeiro episódio é uma adaptação de Os crimes ABC e apresenta Shirō Itō como o personagem Takashi Akafuji, que seria o equivalente ao detetive Poirot. O sétimo episódio da série francesa Les Petits Meurtres d’Agatha Christie também é inspirado no livro da Agatha.

Cena da minissérie japonesa Meitantei Akafuji Takashi.

O mundo dos podcasts entra na lista com a leitura integral da obra no podcast Phoebe Reads a Mystery. São 28 capítulos, que foram ao ar em 2020 e você pode acompanhar o podcast lendo a versão em inglês disponível no Project Gutenberg. Em 2007, a HarperCollins britânica publicou uma adaptação do livro no formato de graphic novel, adaptada por François Rivière e ilustrada por Marc Piskic, ainda sem edição brasileira, pelo que pesquisei. E, para os fãs de board games, temos joguinho também. A Gray Wolf Games lançou o Méthodologie: The Murder on the Links Game, um jogo de tabuleiro investigativo, baseado na trama do livro.


Título: Assassinato no campo de golfe (The murder on the links)
Autor(a): Agatha Christie
Tradutor(a): A. B. Pinheiro de Lemos
Editora: BestBolso
Páginas: 238
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Nota 5 de 5

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