Resenha

Criaturas extraordinariamente brilhantes – Shelby Van Pelt

Desde que a TAG iniciou as suas atividades, eu vinha acompanhando de longe os livros enviados para os assinantes e morria de inveja dos sortudos que recebiam todo mês uma caixinha com um livro em edição exclusiva e mimos. Pois bem, 2023 é o meu ano de ser a sortuda leitora que recebe uma caixinha mensalmente. A TAG possui dois clubes diferentes: o Curadoria, que traz livros indicados por grandes nomes da literatura, em edições de capa dura, e o Inéditos, que traz livros contemporâneos ainda inéditos no Brasil, em brochura. Como minha vibe de leitura é mais do contemporâneo e do best-seller mesmo, escolhi o clube Inéditos, e até agora não tenho um pingo de arrependimento. Recebi cinco livros até agora, todos me interessaram, cada um com uma proposta diferente. Pra começar as leituras da TAG, escolhi o Criaturas extraordinariamente brilhantes, da norte-americana Shelby Van Pelt (a escolha foi principalmente pela arte da capa e da luva mesmo, que está MARAVILHOSA, sem exageros, mérito da ilustradora Nicole Bustamante).


Criaturas extraordinariamente solitárias

É pela perspectiva de três personagens que vamos juntando os caquinhos do mosaico dessa história: Marcellus, um polvo meio rabugento que vive no Aquário de Sowell Bay; Tova, funcionária do Aquário, no auge dos seus 70 anos, e Cameron, um cara de 30 anos que não consegue parar em emprego nenhum e que começa uma jornada em busca de sua própria história. Sim, um dos personagens principais é um polvo, animal considerado um dos mais inteligentes do mundo, e os pequenos capítulos narrados por ele são de uma sensibilidade incrível.

Segredos estão em todos os lugares. Alguns humanos são cheios deles. Como não explodem? […] Por que os humanos não podem usar suas milhões de palavras para simplesmente dizer uns aos outros o que sentem?

Preso no Aquário, Marcellus acaba se tornando um observador da natureza humana. Nada lhe passa despercebido. Solitário, afinal é o único exemplar de sua espécie confinado ali, acaba cativando Tova, outra criatura solitária. Ela perdeu o único filho há muito tempo, quando ele tinha apenas 18 anos. O corpo de Erik nunca foi encontrado e a vida de Tova nunca mais foi a mesma desde então. Pra completar, o marido de Tova faleceu recentemente, tornando a solidão da velhice cada vez mais palpável. Cameron é o último a se juntar a essa dupla, outro coração solitário, que parece não se encaixar em lugar algum e sente constantemente que não merece nada de bom da vida. Ele vai a Sowell Bay em busca do pai que nunca conheceu e acaba conseguindo um trabalho temporário no Aquário.

Às vezes, Tova se pergunta se é melhor assim, ter as tragédias acumuladas, para aproveitar a dor existente. Superar tudo de uma vez só.

A forma como Shelby vai entrelaçando as vidas desses e outros tantos personagens faz com que a trama se torne muito envolvente. É a vida realmente acontecendo. Encontros e desencontros, desentendimentos e reconciliações, alguns momentos mais introspectivos e outros que aquecem o coração. Enquanto vamos tentando descobrir o que realmente aconteceu com o filho de Tova e os detalhes sobre o passado de Cameron, a autora nos leva à refletir sobre velhice, luto, solidão, laços de amizade e sobre o sentimento de pertencimento (ou a falta dele).

Gostei muito da forma como Shelby desenhou os personagens. Não são pessoas totalmente boas ou totalmente ruins, são cativantes, mas também têm traços detestáveis, o que dá um ar mais real para a trama. Tova, com certeza, foi minha personagem favorita. Ela não é o estereótipo da idosa “vovó fofinha”. Apesar de ser, sim, uma pessoa bondosa, ela também tem seus momentos de ser um pouco rabugenta e até rude. A personagem tocou em alguns medos que eu mesma tenho, principalmente o de se tornar uma pessoa idosa sem ter filhos ou outras pessoas próximas que possam cuidar de você caso aconteça um acidente ou você adoeça. Tova acompanha a vida das amigas, também idosas, mas que são amparadas por seus filhos e netos, preenchendo um pouco da inevitável solidão da terceira idade, e ela mesma não tem mais ninguém que a ampare nesse momento, o que a faz refletir diversas vezes sobre o que será de sua vida dali pra frente.

Marcellus também é um personagem especial, sem dúvida. A ideia de acompanhar a trama pela perspectiva de um polvo é, no mínimo, curiosa, e a autora acertou o tom do personagem, sem que ele ficasse caricato ou com ares de fantasia. Os polvos realmente são considerados animais extremamente inteligentes, brincalhões, têm excelente memória e podem fazer uso de ferramentas para resolver seus problemas cotidianos, e a autora soube aproveitar todas essas características para dar vida a Marcellus. O documentário Professor polvo, disponível na Netflix, ilustra bem o quão especiais são essas criaturas, mostrando a amizade inusitada entre um polvo e um mergulhador.

Humanos. Na maior parte do tempo, vocês são entediantes e tolos. Porém, de vez em quando, podem ser criaturas extraordinariamente brilhantes.

Eu estava mesmo precisando de um livro bem leve e gostosinho, e esse chegou em boa hora. A autora já está trabalhando em um novo romance, mais uma vez, com um personagem incomum (curiosa estou).


Título: Criaturas extraordinariamente brilhantes (Remarkably Bright Creatures)
Autor(a): Shelby Van Pelt
Tradutor(a): Giovanna Chinellato
Editora: Alta Books
Páginas: 400
Até o momento, o livro só está disponível para compra na loja da TAG. Você pode adquirir o kit do livro aqui.

Nota 5 de 5
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2 thoughts on “Criaturas extraordinariamente brilhantes – Shelby Van Pelt

  • Gabi - De Todos Os Livros Que Eu Li

    Os livros que tenho visto na TAG não chamam a minha atenção, nem pela capa e nem pelo título… Quando isso não acontece, dificilmente eu leio a sinopse e tenho visto que tô perdendo bastante livros bacanas pela terrível mania de julgar pela capa e/ou pelo título rs.
    Esse livro é um exemplo perfeito disso, visto que depois da sua resenha e das suas opiniões, quero ele pra ontem!
    Apesar de gostar muito de romance e fantasia, as vezes deve ser bom ler um livro com uma pitada a mais de vida real, pra trazer outro ponto de vista para nossa “limitada” visão do mundo.

    Amei a resenha 💜

    Resposta
    • Pois é, esses clubes de assinaturas não agradam todo mundo mesmo, até quem assina às vezes não gosta de algum livro recebido. Eu já tinha lido vários que saíram pela TAG e alguns estão na minha lista de favoritos da vida, por isso a vontade de assinar, principalmente esse clube Inéditos. Engraçado como gosto é algo tão particular, porque eu amo os projetos gráficos da TAG hahahahaha raramente leio sinopses antes de ler, então minhas escolhas sempre são baseadas em capa/título. Eu acho sempre que a gente precisa priorizar o que a gente gosta de ler, ainda mais se a leitura é um passatempo, mas de vez em quando também é gostoso sair dessa caixinha do confortável e ler uma coisinha diferente. A gente sempre pode se surpreender 😉

      Resposta

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