Resenha

Eu, inútil – Cibele Laurentino

Eu já imaginava, pelo título e pela sinopse, que essa seria uma leitura de difícil digestão. Não por não ser bem escrita, longe disso, mas é que dentro desse livro tão curtinho há todo um arsenal de violência psicológica (e também física), que torna a leitura densa e pesada.

Cibele Laurentino nos apresenta aqui a pequena Madalena, uma menina que já chegou a acreditar que seu nome era Inútil. Também poderia ser lesa, gorda, doente, abestalhada e toda uma série de xingamentos que escutava diariamente em casa. Não era Madalena, era inútil, imprestável, era aquela que atrasou a vida da mãe, que transformou a vida da mãe em um inferno. Palavras da própria mãe, e palavra de mãe pesa, gruda na alma, vira tatuagem na pele da criança, e Madalena sentia como se carregasse a palavra inútil estampada na testa.

“Naquela época, eu me questionava muito acerca de minha existência. Achava que só tinha nascido para acabar com a vida de mainha. Às vezes, eu queria sumir para sempre, assim, sem volta, tchau, tchau.”

Madalena tem a primeira chance de ser realmente uma criança dentro da escola, acolhida e ouvida pela sua professora. É na escola que ela começa a se ver como pessoa, a se sentir vista, querida, lembrada. Ali ela tem pequenos momentos de felicidade, pode brincar sem julgamentos, recebe elogios pela sua inteligência, coisas que não fazem parte do seu cotidiano de tensão, medo e tristeza dentro de casa.

“A felicidade é mesmo assim, é mais rápida que a tristeza; a tristeza mastiga a gente.”

Ela vai crescendo e vai, aos poucos, procurando se libertar da sombra da mãe narcisista e violenta. Gostei muito que a autora trouxe para a trama a importância de um acompanhamento psicológico e psiquiátrico em casos como o da Madalena. É impossível se libertar das amarras de um relacionamento abusivo como esse sem ajuda especializada, e mesmo tendo todo o amparo necessário, vemos que os traumas de uma infância de humilhações e agressões físicas não deixaram de existir em Madalena da noite para o dia.

“Eu sabia que machucava, mas não sabia reconhecer a solidão.”

Um ponto de atenção, pra mim, foram os diálogos. Alguns parecem discursos, soaram pouco naturais, meio artificiais, pasteurizados. Algumas questões no desenvolvimento da personagem, da metade do livro até o final, também me pareceram estranhas, mas não muda o fato de que Cibele conseguiu construir aqui uma história que merece ser lida.

No geral, o livro é um soco no estômago. Ver Madalena o tempo todo sofrendo, querendo desesperadamente agradar a mãe e entender o que faz de tão errado para merecer ser tão desprezada e humilhada é torturante. Não são pequenas cenas de desafeto. É uma história inteira construída sob sofrimento. E o que mais me doeu durante a leitura é que essa é uma história que pode ser real, com inúmeras variantes, mas pode ser real. Pode estar acontecendo agora, com qualquer criança por aí. É um daqueles livros que é cruel porque é muito próximo da realidade.

Eu, inútil também está concorrendo ao 7º Prêmio Kindle de Literatura, e eu espero ver esse livro entre os finalistas.


Título: Eu, inútil
Autor(a): Cibele Laurentino
Editora: Publicação independente
Páginas: 136
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Nota 3 de 5

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