Resenha

Natureza-morta – Louise Penny

Quando a Arqueiro lançou a coleção Mistérios em série já fui correndo comprar o primeiro e-book de cada uma das três autoras escolhidas pela editora. Duas dessas autoras (Jacqueline Winspear e Rhys Bowen) ambientam suas tramas nas décadas de 1920 e 1930. Como ando mais atraída por histórias mais contemporâneas, decidi começar a leitura da coleção pelo livro Natureza-morta, da escritora Louise Penny, e acho que foi realmente a melhor escolha.

Louise Penny nasceu em Toronto, no Canadá (1958), cresceu lendo livros de mistério de autores como Agatha Christie, Georges Simenon e Dorothy L. Sayers. Depois de uma longa carreira como locutora de rádio, partiu para a escrita. Natureza-morta (Still life) é seu livro de estreia, apresentando o inspetor-chefe Armand Gamache, e recebeu cinco prêmios, entre eles o New Blood Dagger Award. Vários outros livros da autora foram premiados, inclusive vencendo por cinco anos o Agatha Awards. No Brasil, a Arqueiro publicou até agora cinco livros da autora (quatro da série do inspetor Gamache e um suspense escrito em parceria com Hillary Clinton, ex-secretária de Estado dos EUA).


Uma cidadezinha pacata, um corpo na floresta e muitos segredos

O fictício vilarejo de Three Pines, no Canadá, é um daqueles lugarzinhos bucólicos que parece perfeito para viver uma vida tranquila, em uma comunidade onde todos se conhecem e parecem conviver em harmonia entre si e com a natureza. Esse clima de segurança e hospitalidade é posto à prova no dia em que Jane Neal, uma respeitada professora de 76 anos, é encontrada morta na floresta, atravessada por uma flecha. A princípio, todos pensam se tratar de um acidente, afinal, quem poderia querer fazer mal à Jane? Mas, assim que começam os trabalhos da polícia, fica claro que não se trata de mero acidente, Jane foi assassinada.

Quase todo mundo pensava que se você fosse uma boa pessoa, não teria um fim ruim, que apenas quem merecia era morto. E, com certeza, apenas quem merecia era assassinado. Por mais oculto e sutil que fosse, havia um sentimento geral de que, se alguém era assassinado, havia feito por merecer. Daí o choque quando alguém que se sabia ser gentil e bom era a vítima. E aquela sensação de que certamente havia algum engano.

O renomado inspetor-chefe Armand Gamache é designado para comandar as investigações do assassinato de Jane, acompanhado pelo inspetor Jean Guy Beauvoir e pela agente Yvette Nichol. A dinâmica ente os três é interessante. Jean Guy é um homem de confiança de Gamache, é experiente e, apesar de ter métodos e raciocínio diferentes de Gamache, o trabalho de um complementa o do outro naturalmente. Já a agente Nichols, que está em treinamento, é um desastre e chega a atrapalhar as investigações em alguns momentos. Achei a personagem um pouco mal aproveitada, não sei se ela permanece nos próximos livros, mas espero que ela tenha uma boa evolução.

Um dos grandes diferenciais de Natureza-morta é nos entreter com um mistério muito bem construído, mas sem a necessidade de nos apresentar cenas sangrentas a toda hora ou crueldades dignas de documentários criminais. Somos presenteados com um mistério gostoso de ler, repleto de personagens que são pessoas comuns e com problemas comuns. É impossível não gostar da maioria dos personagens ou, pelo menos, compreender suas motivações. O ritmo pode ser até um pouco lento para os leitores mais acostumados às cenas dinâmicas e de tirar o fôlego dos thrillers policiais, mesmo assim, a autora consegue nos prender em uma atmosfera bucólica e misteriosa do início ao fim.

Gamache sabia que todo crime era profundamente humano. A causa e o efeito. E a única forma de pegar o criminoso era se conectar com os seres humanos envolvidos.

Gamache, o personagem central da série, realmente merece todo o destaque. Entre os detetives dos mistérios contemporâneos que li nestes últimos anos, Gamache é o que mais ganhou a minha simpatia. Ele tem um estilo próprio, apesar de lembrar o Poirot da Agatha em alguns momentos. Ele se conecta com as pessoas de forma muito natural, é um grande observador da natureza humana, um profissional ético e apaixonado pela sua profissão. Para uma trama que é focada nos personagens e suas relações, e em como o crime afetou o cotidiano do vilarejo, nada mais acertado do que um detetive com a personalidade tranquila e humanizada como Gamache.

Gamache se recostou e fez o que fazia melhor. Observou. Olhou para as pessoas, para seus rostos e suas ações e, quando foi possível, ouviu o que diziam, embora elas estivessem longe demais de seu banco de madeira e ele não conseguisse entender muita coisa. Viu quem se tocava e quem não se tocava. Quem abraçava e quem apertava a mão. Notou quem tinha os olhos vermelhos e quem agia com a mesma naturalidade habitual.

Gostei tanto da trama, da escrita da Louise Penny e do inspetor Gamache, que até comprei o livro físico, apesar de ter já em e-book. Na versão física, há um mapinha de Three Pines nas primeiras páginas. Recomendo de olhos fechados, ainda mais para aqueles leitores que adoram uma história de detetive, mas já estão cansados de brutalidade e violência. A Arqueiro realmente arrasou na escolha da autora para essa coleção de mistérios. Os livros ganharam duas adaptações: um filme (Still Life: A Three Pines Mystery, de 2013) e uma série (Three Pines, de 2022), que, infelizmente, foi cancelada após a primeira temporada. Mas, na literatura, Gamache tem vida longa: a série já conta com 19 livros publicados lá fora (haja estante pra tanto livro).


Título: Natureza-morta (Still life)
Autor(a): Louise Penny
Tradutor(a): Natalia Sahlit
Editora: Arqueiro
Páginas: 304
Compre na Amazon clicando aqui.

Nota 5 de 5
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2 thoughts on “Natureza-morta – Louise Penny

  • Gabi - De Todos Os Livros Que Eu Li

    Você já tinha comentado sobre esse livro comigo há um tempo atrás, e eu fiquei super curiosa para ler. Inclusive, já está até no meu Kindle. Mas, como você bem sabe, e-book ainda não é meu forte e tenho sérias dificuldades em começar e terminar um livro digital.
    Gosto bastante de livros de suspenses policiais, e, apesar de as vezes gostar de umas cenas mais detalhadas sobre o crime, tbm gosto de alguns livros mais leves, onde a brutalidades não toma conta de muitas cenas.
    Graças a você, minha wishlist não para de crescer hahahahaha

    Resposta
    • Eu fico feliz quando consigo aumentar a wishlist de alguém hahahahaha Também gosto de umas tramas sangrentas, mas de vez em quando é bom desligar um pouco desse universo e poder curtir um mistério mais focado nas relações entre os personagens. Esse livro é uma delícia, tenho certeza que você vai gostar!

      Resposta

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